A Magia da Revista no Brasil (1800-1945) 1992

PREFÁCIO Nunca havia deparado tão rica concentração de informes sobre a vida cultural brasileira fixada em publicações da imprensa periódica. Foi tudo levantado a partir das “folhas volantes” do século XV, as quais se iniciam “falando em religião”, para logo serem “atraídas por assunto melhor: a política”. Focaliza-se o aparecimento, na Espanha, por volta de 1790, de uma publicação em que se comentam os mais variados assuntos. É a primeira revista: Espírito de los mejores diarios literarios que publica em Europa. Registra-se a introdução da fotografia, como ilustração, produzindo o “apelo comercial”. Em suma, era a “revista”, que rapidamente assumiria a liderança informativa. Quanto ao Brasil, registra-se que, nos primórdios, a elaboração das revistas e jornais “era feita por pessoas que nada tinham em comum, pertenciam às mais variadas classes sociais, cultura, ideais, interesses, aspirações e objetivos”, as quais se guiavam apenas pelo “desejo de lançar no Brasil a novidade que já existia na Europa e nos Estados Unidos”. A Revolução em Portugal (1820), animando aqui a Esquerda revolucionária, empenhada na nossa separação, determinaria o surgimen- to, no Rio de Janeiro, de variadas publicações, entre as quais o primeiro diário lançado no Brasil, Diário do Rio de Janeiro. Documenta-se que a imprensa periodica no Brasil teve seu aparecimento e presença muito vinculados aos movimentos políticos, a começar naturalmente pelos que se bateram pela Independência e, mais adiante. pela Abolição. Mas esse rigoroso levantamento do que tem sido a imprensa periódica no Brasil é sobretudo precioso pelo que, a propósito da história dos jornais que temos tido, reconstitui, em lembranças, a nossa vida social em termos de valores de todo tipo. São evocados modos, roupas, remédios, canções populares e cânticos políticos (Seu Mé, por exemplo), a sociedade de Belle Epoque, figuras humanas, indumentária de uso (sem faltar o fraque obrigatório), pessoas, entre as quais Nair de Teffé, tão rica e expressiva personagem do seu tempo. Em suma, a propósito do que tem sido a nossa imprensa através do tempo na vida brasileira, esse levantamento histórico, minucioso e muito inteligente, é uma preciosidade. Corresponde a um estudo histórico muito completo e, além disso, muito gostoso, porque tem o sabor de reconstituição. Trata-se, em verdade, de numerosa a variada imprensa reconstituída através do tempo. E eis-nos devolvidos aos fatos do nosso passado, todos, mas com o pleno sabor de atualidade. UMBERTO PEREGRINO Em 19 de setembro de 1992.